27 julho, 2012

Então chegou a minha vez...



... Agora eu quero falar. É pela palavra que nos une. É pela Poesia. Pelo encontro. Pelo verso. Pela rima. Pela prosa nossa de cada dia. Que a Poesia continue nos mostrando que é possível se esvaziar do peso do mundo. Daquilo que nos dói.

Que a gente continue florindo. Que a gente continue amando. Dançando e cantando na chuva. Sentindo. E se sentindo. Mesmo longe. Mesmo quando perto.

Que a gente não se perca. Mas que tenhamos a ousadia de mudar a rota quando a vida assim quiser. Quando a gente assim decidir. Porque ninguém é de ferro. Somos o contrário disso. Somos tanto. Somos silêncio. Somos sorrisos. Somos também tristeza, quando o destino de rasteira nos alcança. Somos nossos livros que nos instruíram até aqui. Esse instante. Somos as pessoas que passaram por nós. E as que ficaram também. As que são.

Somos as tentativas. Os nossos sonhos. Somos a Poesia da vida. Somos Poesia. E dela extraímos a doçura que nos move. Que nos une. Que todos os dias nos abençoa, pela simplicidade dela. E pela gentileza, também.


Bibiana Benites
O amor sobre(vive) da troca. 
Da reciprocidade. 
E de uma série de outros sentimentos 
que fazem com que ele permaneça aceso.
Bonito. 
O amor é uma via de mão dupla.




Bibiana Benites

26 julho, 2012

O amor é um só





"Não existem vários tipos de amor, assim como não existem três tipos de saudades, quatro de ódio, seis espécies de inveja. O amor é único, como qualquer sentimento, seja ele destinado a familiares, ao cônjuge ou a Deus. A diferença é que, como entre marido e mulher não há laços de sangue, a sedução tem que ser ininterrupta. Por não haver nenhuma garantia de durabilidade, qualquer alteração no tom de voz nos fragiliza, e de cobrança em cobrança acabamos por sepultar uma relação que poderia ser eterna.

Casaram. Te amo prá lá, te amo prá cá. Lindo, mas insustentável. O sucesso de um casamento exige mais do que declarações românticas. Entre duas pessoas que resolvem dividir o mesmo teto, tem que haver muito mais do que amor, e às vezes nem necessita de um amor tão intenso. É preciso que haja, antes de mais nada, respeito. Agressões zero. Disposição para ouvir argumentos alheios. Alguma paciência.

Amor, só, não basta. Não pode haver competição. Nem comparações.

Tem que ter jogo de cintura para acatar regras que não foram previamente combinadas. Tem que haver bom humor para enfrentar imprevistos, acessos de carência, infantilidades. Tem que saber levar.

Amar, só, é pouco. Tem que haver inteligência. Um cérebro programado para enfrentar tensões pré-menstruais, rejeições, demissões inesperadas, contas pra pagar. Tem que ter disciplina para educar filhos,dar exemplo, não gritar. Tem que ter um bom psiquiatra. Não adianta, apenas, amar.

Entre casais que se unem visando a longevidade do matrimônio tem que haver um pouco de silêncio, amigos de infância, vida própria, um tempo pra cada um. Tem que haver confiança. Uma certa camaradagem, às vezes fingir que não viu, fazer de conta que não escutou. É preciso entender que união não significa, necessariamente, fusão. E que amar, “solamente”, não basta.

Entre homens e mulheres que acham que o amor é só poesia, tem que haver discernimento, pé no chão, racionalidade. Tem que saber que o amor pode ser bom, pode durar para sempre, mas que sozinho não dá conta do recado.

O amor é grande mas não é dois. É preciso convocar uma turma de sentimentos para amparar esse amor que carrega o ônus da onipotência. O amor até pode nos bastar, mas ele próprio não se basta.

Um bom Amor aos que já têm!
Um bom encontro aos que procuram!
E felicidades a todos nós!"


(Martha Medeiros - Trem-bala)

20 julho, 2012

Amigo

Para quem é, 


para quem tem


Um dia feliz de amigo 






A dor do outro





A minha dor eu sei resolver. Ainda que seja a custo alto, sei resolver. Pode ser com um calmante, um trabalho físico, um desabafo. Pode ser mexendo na horta, organizando as roupas no armário, limpando a casa; eu sei resolver. Ainda que demore, resolvo.
O que não sei resolver é a dor do outro. Fico mudo, meu braço sobra, minha mão falta, minha boca treme algum vento sem força.
A dor do outro não se comunica. Não dá nem tira emprego. A dor do outro me isola. Tento uma brecha para falar, mas sinto-me intruso, incômodo, solteiro. Como uma casa em reforma.
Toda dor só é compreensível no idioma da dor. Quem está de fora não entende, não tem razão, não alcança sentido. A dor não busca conselhos; a dor busca a pele para colocar por cima, busca cicatrizar a ferrugem e a maresia.
A dor do outro é pedalar com a respiração. Ela me desfalca, me devassa, me faz duvidar de que eu podia ter ouvido.
A dor do outro é a minha dor mais pessoal, porque é indiferente à minha própria dor.
A dor do outro é uma parada de ônibus sem ônibus por vir. Uma parada de ônibus para se sentar e não ir. A dor do outro fica no lugar da dor, não suporta um passo além do círculo de sua lembrança fixa. A dor do outro tem a altura de um grito que não é dado para não desperdiçar a dor.
A dor do outro não ri, porque, séria, chega mais rápido ao seu fim.
A dor do outro não se empresta, é dor de osso, dor que não se enxerga de dia e nem de noite. [...]
A minha dor eu resolvo. A dor do outro não sei aonde colocar, onde me colocar. 
Faço como minha avó Elisa. Quando alguém recusava um abraço, ela pedia para devolvê-lo.


Devolver o abraço é a dor do outro.





Fabrício Carpinejar - Pássaros comem na mão, do livro "O Amor Esquece de Começar"

18 julho, 2012





"Na vida, a gente somente depende de alguém que confie na gente, que não desista da gente. 
Uma âncora, um apoio, um ferrolho, um colo."



 Fabrício Carpinejar

Devagarinho




"Diz ele que se farta de ver mulheres muito bonitas, cuja beleza o sufoca assim que as vê, mas que nunca tenta nada com elas porque simplesmente não acredita nesse tipo de paixão. A beleza é como o chocolate, disse, é doce mas pode enjoar. O André quer começar a sentir-se apaixonado por uma mulher apenas dois ou três meses depois de a conhecer. Devagarinho, como ele repetiu insistentemente, de forma a perceber que também ela se apaixona por ele da mesma maneira.
- Isso não é ser esquisito? - perguntei enquanto enchia de novo os copos.
- O Amor é como uma bola de neve. Se não estiver sempre a crescer, desfaz-se.
- É ser esquisito, sim. - concluí.
- Sabes porque é que somos amigos há mais de vinte anos? - Tocou de novo no sofá como se estivesse a tocar o passado, desta vez o nosso.
- Porque nos damos bem.
- Porque somos amigos lentos um com o outro. Não exigimos nada um do outro a não ser honestidade e companhia de vez em quando. É mais ou menos assim que eu me quero apaixonar, mas por uma mulher."




por Bagaço Amarelo,
em "Não compreendo as mulheres"

14 julho, 2012

Nosso corpo, a casa da verdade




"Não sei o que está acontecendo comigo,
diz a paciente para o psiquiatra.
Ela sabe.
Não sei se gosto mesmo da minha namorada,
diz um amigo para o outro.
Ele sabe.
Não sei se quero continuar com a vida que tenho,
pensamos em silêncio.
Sabemos sim.

(...)

A verdade grita. Provoca febres, salta aos olhos, desenvolve úlceras. Nosso corpo é a casa da verdade, lá de dentro vêm todas as informações que passarão por uma triagem particular: algumas verdades a gente deixa sair, outras a gente aprisiona. Mas verdade é só uma: ninguém tem dúvida sobre si mesmo."




Martha Medeiros
Montanha Russa

13 julho, 2012

Estamos precisados





"Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando."


Carlos Drummond de Andrade - Notas sobre A Banda

"O melhor amor é sempre dentro e perto. 

Chega inesperado, vem forte,

vem doce, acalma e desatina."





Lya Luft

11 julho, 2012



A ordem dos fatores...




Dentro da igreja, ajoelhe-se. No estádio de futebol, grite pelo seu time. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o. Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-o. Durante um beijo, dispa-se. No estádio de futebol, apaixone-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, grite pelo seu time. Reencontrou um amigo, comemore. Esteja, entregue-se.


Martha Medeiros

Nós dois


09 julho, 2012

Quando me amei



Ele começou a me amar quando eu, por vontade própria, passei a me querer mais por perto. A me transbordar com a minha companhia. Bastava um livro na mão. E um café na outra. Passei a me sentir plena. Segura. Inteira. Florescendo. Querendo. Sendo. Amando. Me adorando. E ele agora deu pra me querer tanto por perto. E eu também. Me querendo nele. Com ele. E comigo. 







Bibiana Benites

Eu te dedico


Eu te dedico as minhas linhas. Eu te escrevo nas entrelinhas. Entre-tortas. Entre-minhas. Eu te sinto entre o suspiro e a pausa de um texto. Entre as reticências. A exclamação. No meio da frase. No início de um escrito. Entre o início e o meio. Entre saudades e afeto. É lá que você fica. É de lá que você me envia uma infinidade de coisas. De sentires. De gostares. De estares. De seres. Deve ser por isso que eu nunca te escrevo no fim.



Bibiana Benites

04 julho, 2012



Eu sou a bonitinha que lê uns livros e vê uns filmes. Você é essa força absoluta e avassaladora que jamais precisará abrir a boca para impor sua vitória. Você coloca aquele moletom cinza com dizeres do surf e eu experimento um guarda-roupas inteiro pra ficar à sua altura.


Tati Bernardi

A gente se encontra...


Quem gostou da Ideia