29 janeiro, 2009

A DOR QUE DÓI MAIS



Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

22 janeiro, 2009

Fragmentos


Minha amiga Lu enviou-me dois fragmentos que acertou em cheio meu coração, ei-los:

"Não morro de amores por pessoas sem mistério. Quando se é muito transparente, muito risonho e educado é raro ser levado a sério. Prefiro os mais silenciosos, os que abrem a boca de menos , os mais serenos e mais perigosos, aqueles que ninguém define e que sempre analisam os fatos por um novo enfoque; prefiro os que têm estoque aos que deixam tudo à mostra na vitrine"

"Longe dos olhos, ele fica mais alto, ela fica mais bonita. Longe dos olhos, a gente imagina tudo o que ele está fazendo sem a nossa presença, a gente imagina que ela está se divertindo a valer. Longe dos olhos, a gente acredita que ele não pensa mais em nós, a gente aposta que ela tem outro. Longe dos olhos, tudo é recriado, viramos roteiristas sem atores, e transformamos um amor que foi real e comum num amor irreal e comovente".

(extraído da Crônica Longe dos Olhos, de 06 de janeiro de 2003 )

O amor invade a Casa Branca





Já se falou muito deste momento único para o mundo, a posse do 1º presidente negro dos E.U.A. Porém, o que ficará na minha memória, com certeza, não será a sua cor (poderia ser branco, preto, rosa, azul...irrelevante). O que ficará não será somente o grande homem que ele é, mas também ela (sua metade), Michelle Obama. Nunca vou esquecer a expressão da admiração, do orgulho e do carinho que estavam estampados no rosto da primeira dama. Ficará eternizado dentro de mim o rosto de uma mulher que ama o seu homem, que o apóia, que sobe ao palanque para defender as idéias de quem ela acredita...que aplaude a vitória de quem divide a cama com ela. Não o vejo como um super homem, vejo nele um homem que ama e é amado, que carrega suas forças e chora suas decepções dentro de quatro paredes, onde encontra os braços disponíveis de sua fiel companheira.

Estou na torcida...desejo que ele governe o seu país com a mesma dedicação e amor que governa sua linda família.





Vânia Andrade*

22/01/2009



PEQUENOS PRAZERES


Sempre levei minha vida acreditando nos pequenos prazeres. Eles sempre tinham o poder de levantar meu astral, de me fazer sorrir melhor, de acreditar que meu dia valeu a pena...às vezes por ter descoberto um livro maravilhoso na prateleira de uma livraria ou apenas por ter batido um papo com uma amiga dividindo um café. Esses dias, li um artigo que falava justamente sobre isso, e gostaria de dividir com vocês. Felicidade pra mim é isso, uma soma de pequenos prazeres...EU SOU FELIZ!

"O psicólogo e neuroliguista de Harvard Daniel Gilbert , autor do livro Stumbling on Happiness (Tropeçando na Felicidade) afirma que trezentos pequenos prazeres fazem as pessoas mais felizes do que uma única grande alegria. Não adianta transformar sua vida cotidiana em um inferno em nome de algum nobre e grandioso fim. Gilbert é um dos inspiradores de uma nova atitude global detectada e batizada pelos caçadores de tendências do site inglês de análise de pesquisa , WGSN (Worth Global Style Network): a onda “Nice”. Nice dizer bom, agradável, bonito, belo. A tendência “Nice”, na moda, no consumo, nas atitudes, se expressa em cores vibrantes; em toy arts, em adereços divertidos, em intervenções urbanas simpáticas, em convivência gentil, que pretendem promover o bem estar. No trabalho ser “Nice” é, antes de mais nada, não se deslumbrar excessivamente consigo próprio, ou melhor, nunca se esquecer do outro."

OS PONTOS CHAVES DA TENDÊNCIA “NICE”

• Trezentos pequenos prazeres
tornam as pessoas mais felizes
do que uma grande alegria.

• Encontre prazer nas pequenas coisas
E usufrua cada momento de felicidade.

• Otimismo, bondade, verdade e integridade
Interessam hoje mais do que nunca.

• Celebre tradições e valores antigos.

• Ponha alguma coisa legal no mundo.
Hoje foi divertido, quantas vezes você
consegue dizer isso ao final de um dia de trabalho?


Texto retirado da revista Criativa Agosto de 2008

20 janeiro, 2009

MILágrimas


Em caso de dor,
ponha gelo
Mude o corte do cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema, dê um sorriso
Ainda que amarelo
Esqueça seu cotovelo
Se amargo for já ter sido
Troque já este vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério, deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada milágrimas sai um milagre
Em caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa
Coma somente a cereja
Jogue para cima, faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra apenas, viva apenas
Sendo só fissura, ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena, reze um terço
Caia fora do contexto, invente seu endereço
A cada milágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas, três, dez, cem mil lágrimas, sinta o milagre
A cada milágrimas sai um milagre

Itamar Assumpção

14 janeiro, 2009

Promessas de Casamento




Repaginada no sermão e nas promessas, A D O R E I...olhem isso!




"Em maio de 98, escrevi um texto em que afirmava que achava bonito o ritual do casamento a igreja, com seus vestidos brancos e tapetes vermelhos, mas que a única coisa que me desagradava era o sermão do padre. "Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?" Acho simplista e um pouco fora da realidade. Dou aqui novas sugestões de sermões:

- Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade?
- Promete saber ser amiga(o) e ser amante, sabendo exatamente quando devem entrar em cena uma e outra, sem que isso lhe transforme numa pessoa de dupla identidade ou numa pessoa menos romântica?
- Promete fazer da passagem dos anos uma via de amadurecimento e não uma via de cobranças por sonhos idealizados que não chegaram a se concretizar?
- Promete sentir prazer de estar com a pessoa que você escolheu e ser feliz ao lado dela pelo simples fato de ela ser a pessoa que melhor conhece você e portanto a mais bem preparada para lhe ajudar, assim como você a ela?
- Promete se deixar conhecer?
- Promete que seguirá sendo uma pessoa gentil, carinhosa e educada, que não usará a rotina como desculpa para sua falta de humor?
- Promete que fará sexo sem pudores, que fará filhos por amor e por vontade, e não porque é o que esperam de você, e que os educará para serem independentes e bem informados sobre a realidade que os aguarda?
- Promete que não falará mal da pessoa com quem casou só para arrancar risadas dos outros?
- Promete que a palavra liberdade seguirá tendo a mesma importância que sempre teve na sua vida, que você saberá responsabilizar-se por si mesmo sem ficar escravizado pelo outro e que saberá lidar com sua própria solidão, que casamento algum elimina?
- Promete que será tão você mesmo quanto era minutos antes de entrar na igreja?

Sendo assim, declaro-os muito mais que marido e mulher: declaro-os maduros."

Martha Medeiros*

(imagem retirada de um outro blog)

A Alegria na Tristeza



*



São tantas coisas que tenho que me preocupar. Existe uma lista de tarefas diárias que tenho que executar , além de ser feliz, bonita, antenada, inteligente, simpática...etc (tô meio cansada disso). Porém, quando às vezes me pego triste, melancólica ou até mesmo saudosa, me sinto culpada. Até o dia que caiu um texto da Martha Medeiros (amo muito essa criatura) em minhas mãos, e a ficha finalmente despencou . Consegui entender que a tristeza e a alegria fazem parte do mesmo universo, mesmo sendo antagônicas.
Acho que a Martha também descobriu isso....eis o texto:


“O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegria de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.



O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.


Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.


Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.


Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento. Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.



Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada."


Martha Medeiros*



**Meu desejo de Novo Ano**





Renova-te.

Renasce em ti mesmo.

Multiplica os teus olhos, para verem mais.

Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.

Destrói os olhos que tiverem visto.

Cria outros, para as visões novas.

Destrói os braços que tiverem semeado,

Para se esquecerem de colher.

Sê sempre o mesmo.

Sempre outro. Mas sempre alto.

Sempre longe.

E dentro de tudo.



Cecília Meireles*

Cântico XIII

Quem gostou da Ideia