29 agosto, 2012

A arte de viver bem com nossas imperfeições



Nossas idiossincrasias são mais interessantes para as outras pessoas do que nossas mais gloriosas realizações pessoais.
     Você é uma ótima cozinheira, mas seu namorado apaixona-se perdidamente no dia em que você põe fogo na cozinha fazendo Crème brúlée. Você é um excelente advogado, mas seus filhos o adoram porque sabe fazer caretas. Você acaba de ser eleito presidente da empresa e seu melhor amigo diz: "Enganou todo mundo, hein?!".
     Tranquilize-se de uma vez por todas: o amor não é uma meritocracia.
     A história está cheia de incompetentes muito amados, tolos com características cativantes, ineptos que deliciam todos a sua volta com sua modesta presença. O segredo deles? Aceitar suas falhas com a mesma graça e humildade com que aceitam suas melhores qualidades.
     Há vantagens práticas em não ser perfeito. Cientistas estão descobrindo que o ato de meter os pés pelas mãos é uma força criativa da natureza, capaz de neutralizar o processo irreversível de degradação chamado entropia. Da mesma forma, nossas falhas, fraquezas e azares podem trabalhar a nosso favor, nos tornando mais resistentes, mais criativos e, em última análise, mais eficientes.
     Você não tem que ser perfeito para ser bem sucedido. Muitas vezes, o desejo de estar certo é um obstáculo para que as coisas melhorem, e a necessidade de controle aumenta a desordem e o caos.
     Perdoe-se. Logo você vai descobrir que a auto-aceitação e tolerância não são assim tão difíceis de alcançar.


Véronique Vienne

O Ponto


Hoje está começando uma nova etapa em minha vida. 
Longa, difícil, árdua e feliz.
Uma querida amiga, sabendo da minha alegria, do caminho que percorri  e que ainda vou percorrer, me enviou esse vídeo e me fez refletir. Estou deixando aqui para motivar aos que me presenteiam com sua preciosa visita.


28 agosto, 2012

Tempo é ternura


Perder tempo é a maior demonstração de afeto. A maior gentileza. Sair daquele aproveitamento máximo de tarefas. Ler um livro para o filho pequeno dormir. Arrumar as gavetas da escrivaninha de sua mulher quando poderia estar fazendo suas coisas. Consertar os aparelhos da cozinha, trocar as pilhas do controle remoto. Preparar um assado de 40 minutos. Usar pratos desnecessários, não economizar esforço, não simplificar, não poupar trabalho, desperdiçar simpatia.


Levar uma manhã para alinhar os quadros, uma tarde para passar um paninho nas capas dos livros e lembrar as obras que você ainda não leu. Experimentar roupas antigas e não colocar nenhuma fora. Produzir sentido da absoluta falta de lógica.


Tempo é ternura.


O tempo sempre foi algoz dos relacionamentos. Convencionou-se explicar que a paixão é biológica, dura apenas dois anos e o resto da convivência é comodismo.


Não é verdade, amor não é intensidade que se extravia na duração.


Somente descobriremos a intensidade se permitirmos durar. Se existe disponibilidade para errar e repetir. Quem repete o erro logo se apaixonará pelo defeito mais do que pelo acerto e buscará acertar o erro mais do que confirmar o acerto. Pois errar duas vezes é talento, acertar uma vez é sorte.


Acima da obsessão de controlar a rotina e os próximos passos, improvisar para permanecer ao lado da esposa. Interromper o que precisamos para despertar novas necessidades.


Intensidade é paciência, é capricho, é não abandonar algo porque não funcionou. É começar a cuidar justamente porque não funcionou.


Casais há mais de três décadas juntos perderam tempo. Criaram mais chances do que os demais. Superaram preconceitos. Perdoaram medos. Dobraram o orgulho ao longo das brigas. Dormiram antes de tomar uma decisão.


Cederam o que tinham de mais precioso: a chance de outras vidas. Dar uma vida a alguém será sempre maior do que qualquer vida imaginada.


Fabrício Carpinejar in, crônica do novo livro "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus"

25 agosto, 2012

Um olhar mais apurado





I – Pedagogia dos afetos e traições



Ainda não vi ninguém lendo no núcleo zona sul de Avenida Brasil. Chama atenção o fato de ser Tufão, o craque suburbano, o leitor. Primeiro, Nina sugere para ele a leitura do escritor checo Fanz Kafka. Em sua prosa, o ser degradante que se perde de si sugere o roteiro de Tufão ao perder-se de Monalisa. Mas ele não saca o recado de Nina: ela deseja que, ao ler “A metamorfose” (1915), o craque perceba ser numa barata que Carminha o transforma, impedindo-o de ler o real a sua volta.


Machado de Assis surge, na novela, em dose dupla para “leitores de alma já formada”: “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881) e “Dom Casmurro” (1899). Os dois romances trazem para a narrativa a senha da traição de Carminha. Mas o jogador não se toca. Nina tempera cada vez mais o cardápio literário: manda ele ler de Gustavo Flaubert o livro “Madame Bovary” (1856) – romance que possui o adultério como tema. Nesta prosa onde um médico rural é traído pela esposa, o burguês é um vilão cujos instintos e emoções dão o tom da narrativa.


A educação sentimental de Tufão é lenta, mas sofisticada. A pedagogia dos afetos e das pequenas traições, aplicada por Nina, leciona alguns dos melhores romances da literatura moderna produzida no Brasil e no mundo. Não sei da formação de Nina nem o motivo do seu bom gosto literário. Mas sei uma senha irônica: saída do lixão, ela foi educada na Argentina – país onde leitura de livro é um hábito bem mais cotidiano do que por aqui.


II – Kafka, Machado, Flaubert e Rosa


Depois de ler Kafka, Machado e Flaubert, o craque lê o Guimarães Rosa de “Grande Sertão: vereda” (1956). “Diadorim é a minha neblina” – diz Riobaldo, o personagem que rememora numa prestação de contas infinitamente desfalcada, onde nenhum dos “itens” fecha. Sertão é “onde os pastos carecem de fechos”, sabe o jagunço. Os dados também não fecham na cabeça de Tufão. Travestida de defensora da moral e dos bons costumes, Carminha encarna uma Diadorim que não chove. Sua neblina adia. Engana-se bem quem nela se molha.


Será a próxima leitura de Tufão “A paixão segundo G H” ou outro título da Clarice? “Fragmentos de um discurso amoroso”, do Roland Barthes? Algum romance do Graciliano ou Camus? Sábato, Cortázar, Aira ou Piglia? Quem sabe, o próximo romance do craque seja acompanhado da leitura da própria Nina, cujo rango ele degusta e cuja identidade ele vem assoletrando em pequenos goles.




Nonato Gurgel

Professor do Curso de Letras da UFRRJ 

21 agosto, 2012

Por que se ama?

Imagem de Fabrício Carpinejar e Cinthya Verri



Janta by Marcelo Camelo e Malu Magalhães on Grooveshark


Não é nenhum grande ato que desperta o amor, não é um heroísmo, uma atitude exemplar, um feito impressionante.


O que faz um homem amar uma mulher e uma mulher amar o homem é tão pessoal, que é possível passar uma vida inteira sem desvendar o motivo. Não é necessário ter consciência para ser feliz. Não é fundamental entender para amar. Mas é mais bonito.

Fico me perguntando o que inspirou minha confiança na Cínthya. Qual foi a delicadeza que ela cometeu a ponto de me viciar no convívio? O que realizou no começo do relacionamento que mexeu comigo e não quis mais abandoná-la?

O que ela aprontou de errado que deu tão certo? O que me pôs a repeti-la um dia atrás do outro sem cansar? O que me seduziu de tal forma, que entrei uma vez em sua casa com uma mochila e voltei com uma mala?

Talvez tenha sido sua simplicidade. Eu me impressiono com o que é espontâneo. Não havia quadros em suas paredes, nem estantes. A única coisa que estava de pé era o violão. Aquilo me emocionou: a música de sentinela. Ela brincou:

– O violão é meu confidente, meu melhor amigo.

Inventei de dedilhar as cordas para descobrir logo seus segredos, só que desafinei e ri envergonhado. Não estava maduro para o mistério, não merecia ainda suas lembranças, dependia de mais cumplicidade.

Mas não foi isso, ou somente isso, sempre tem algo que se soma.

Acho que ela travou meu olhar na hora em que passeávamos de carro pela orla do Guaíba. Estreava na rádio a canção Janta, de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães.

“Eu ando em frente por sentir vontade...”

Cínthya cantava sem conhecer a letra. Aprendia a letra enquanto cantava. Longe do medo da gafe. Em voz alta, errando, tropeçando, gravando o refrão. Completava os trechos que não entendia com melodia e dirigia as rimas até o fim. Descobri que ela tinha coragem. Não iria temer um desafio. Mesmo que fosse complicado como eu.

Pensando bem, me rendi no café da manhã. Quando ela me ofereceu um saco de bolachas doces do bairro Liberdade. Eu peguei as redondas, perfeitas, para explodi-las com exclusividade em meus dentes.

Ela não; ciscou os farelos. Optou pelas bolachas partidas. Do fundo, recolhia os pequenos retângulos, triângulos, quadrados desiguais. Compadecida do pouco, enamorada da miudeza.


Um gesto silencioso que me cativou. Cuidava de mim já na primeira manhã juntos. Comia as quebradas para me deixar as inteiras. Havia cinco ou seis bolachas intactas:

– Toma, por favor...

Reprisando nossa vida, ela avisou, naquele momento, que nunca partiria meu coração.



Fabrício Carpinejar

14 agosto, 2012

Isso é mais que beleza




[…] 

quando uma mulher confiante chega a um lugar, aí sim, temos uma grande entrada. Eu a observarei se movendo com graça e autocontrole. Em geral, ela nunca é aquela de pretinho básico, mas sim a que usa uma camisa interessante e uma saia retrô. Fico louca para saber imediatamente onde comprou as peças. Ela pode nem ser a mulher mais linda e deslumbrante que já vi, mas tem algo que a torna o centro das atenções. Confiança é algo cativante, revela poder e não se perde com o tempo – e isso é infinitamente mais interessante que beleza.

O primeiro e mais importante passo para ter estilo é projetar esse tipo de confiança, aquela que transmite às pessoas que você se respeita, se ama e se veste para si mesma e para mais ninguém. Você é sua própria musa. Estilo se adquire ao aprender quem você é e quem quer ser neste mundo: não vem da vontade de querer ser outra pessoa, ou mais magra, mais baixa, mais alta, mais bonita… Muitas das mulheres mais estilosas do mundo não eram lindas de morrer, mas se revelaram graças a muita confiança. Elas nos fizeram pensar que eram bonitas porque elas próprias achavam isso. Não permitiram que outros as definissem: elas próprias se definiram. […]

A mulher confiante se ama por inteiro.

[…]


Nina Garcia “O livro negro do estilo”


"Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto, esse eterno levantar-se depois de cada queda, essa busca de equilíbrio no fio da navalha, essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens."




Vinícius de Moraes

10 agosto, 2012

Há pessoas que estão vindo muito demoradas…







Guimarães Rosa

Renovador

Ah, o abraço!!!!!

O psicoterapeuta mexicano Omar Villalobos afirma que trata-se de uma técnica terapêutica impulsionada pelo contato físico, “pelo toque”. O objetivo pode ser curar um simples desalento, como também fazer com que alguém que esteja com uma doença realmente grave, sinta-se fortalecido.
Os defensores enfatizam que os benefícios englobam o físico e o emocional. Há comprovações científicas que embasam a ideia. Quando você abraça outra pessoa, com ternura, o corpo libera dopamina, endorfinas e oxitocina, químicos que impulsionam o bem-estar.





Me abrace, 
que no abraço 
mais do que em palavras, 
as pessoas se gostam." 


Clarice Lispector

*



E este é um contato com o maior órgão do corpo, a pele, que pode gerar uma verdadeira lista de benefícios:

- Terá a oportunidade de experimentar sentimentos de satisfação
- É tido como um ato que impulsiona o desenvolvimento da inteligência nas crianças
- A fisiologia de quem recebe o abraço é alterada, provocando reações positivas
- Melhora a saúde, ou auxilia na cura de doenças
- Também pode ser usado como uma ferramenta, onde o ser humano desabafa seu desconforto, sua raiva, ou sua dor.

Nesta terapia o importante é ver o abraço sob outro ângulo, com novos olhos, ou como uma atitude que realmente pode melhorar a vida de outra pessoa, ou a própria.





09 agosto, 2012

A escolha é sua



"Tenho, nas minhas mãos, dois caminhos, duas decisões, mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir, entre rir ou chorar, ir ou ficar, entre desistir ou lutar. Se o mar está revolto, posso ficar na praia ou sair para pescar e, talvez, nunca mais voltar. Tenho, nas minhas mãos, o bem e o mal, e entre eles, poucos pensamentos, um diz para fazer sem culpa, o outro pensa, reflete e pede para esperar. Enquanto o mundo se perde em erros, posso me manter sereno, sem medo porque tenho a chave da minha vida nas minhas mãos. Então, hoje, me sinto mais forte, pois atravessei o deserto da alma, amei quem não me amou e deixei de lado quem muito me amava. Atravessei caminhos nem sempre floridos, que deixaram marcas profundas em mim, mas amei e fui amado... Por isso tenho em minhas mãos, bem mais que a vida, tenho a dúvida e a certeza, a esperança e o medo, o desejo e a apatia, o trabalho e a preguiça. E me dou o direito de errar sem me cobrar, e acertar sem me gabar, porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é decidir. E decidi, de uma vez por todas, ser feliz e esse caminho não tem volta..."


Paulo Roberto Gaefke

05 agosto, 2012

Com todo meu respeito

‎'Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do mar, numa festa, num bar. Parece exagero dizer que alguém que leve uma pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que for demitido. Onde está o hematoma causado pelo desemprego, onde está a cicatriz da fome, onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito? Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa. Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio, principalmente pelos que sofrem por amor.'



- Martha Medeiros

04 agosto, 2012

Everything

Estou um pouco longe do meu espaço virtual preferido, mas brevemente as coisas irão se normalizar, assim espero.  Queria aproveitar e deixar um vídeo que falou muito ao meu coração...e sempre fala quando assisto.  Ilustra de forma inteligente, o grande amor de Deus por nós.  Amor sem medida, sem pressa, sem condições...
um amor  que envolve, acolhe, supre, suporta...
Eu creio neste amor.  

01 agosto, 2012

Mulheres



"Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura." 


Charles Bukowski

Quem gostou da Ideia