31 janeiro, 2012

Amor I love you






"... tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante, onde cada hora tinha o seu encanto diferente, cada passo condizia a um êxtase, e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"



Eça de Queiroz

A idade do céu




Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...



Não somos o
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...


Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...



Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Um capricho do sol
No jardim do céu...



Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu...


Calma!
Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu



Paulinho Moska

O vencedor

Olha lá, quem vem do lado oposto
Vem sem gosto de viver
Olha lá, que os bravos são
Escravos sãos e salvos de sofrer
Olha lá, quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá, quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar




28 janeiro, 2012

Os mínimos detalhes






(...) Quero sambão com churrasco e as famílias reunidas.

Quero ter certeza, ali no fundo da alma dele, de que ele me ama.

Quero que ele saia correndo quando meu peito amargurado precisar de riso.

Que ele esqueça, de vez em quando, seu lado egoísta, e lembre do meu. Que a gente brigue de ciúmes, porque ciúmes faz parte da paixão, e que faça as pazes rapidamente, porque paz faz parte do amor.

Quero ser lembrada em horários malucos, todos os horários, pra sempre. Quero ser criança, mulher, homem, et, megera, maluca e, ainda assim, olhada com total reconhecimento de território. (...) Quero foto brega na sala, com duas crianças enfeitando nossa moldura. Quero o sobrenome dele, o suor dele, a alma dele, o dinheiro dele. (brincadeira…)

Que ele me ame como a minha mãe, que seja mais forte que o meu pai, que seja a família que escolhi pra sempre.

Quero que ele passe a mão na minha cabeça quando eu for sincera em minhas desculpas e que ele me ignore quando eu tentar enrolá-lo em minhas maldades.

Quero que ele me torne uma pessoa melhor, (...) que me faça comer peixe apimentado sem medo, respeite meus enjôos de sensibilidade, minhas esquisitices depressivas e morra de rir com meu senso de humor arrogante. Que seja lindo de uma beleza que me encha de tesão e que tenha um beijo que não desgaste com a rotina.

Tem que dançar charmoso, ser irônico, ser calmo porém macho (ou seja, não explodir por nada mas também não calar por tudo). Tem que ser meio artista, mas também ter que saber cuidar dos meus problemas burocráticos. Tem que amar tudo o que eu escrevo e me olhar com aquela cara de “essa mulher é única”.


É mais ou menos isso. Achou muito? Claro que não precisa ser exatamente assim, tintim por tintim. Bom, analisando aqui, dá pra tirar umas coisinhas. Deixa eu ver… 

Resumindo então: tem que dizer que me ama e me amar mesmo, tem que rolar umas sacanagens e Pronto!


E quando eu tiver tudo isso e uma menina boba e invejosa me olhar e pensar que “aquela instituição feliz não passa de uma união solitária de aparências” vou ter pena desse coração solitário que ainda não encontrou o verdadeiro amor.







(TATI BERNARDI)





Cartas de amor são escritas não para dar notícias, 
não para contar nada, 
mas para que mãos separadas se toquem 
ao tocarem a mesma folha de papel.





Rubem Alves.





" Toda alegria é assim ...

Já vem embrulhada numa tristezinha 

de papel fino ."





Millôr Fernandes

27 janeiro, 2012

Os laços invisíveis


"O que vai ficar na fotografia
são os laços invisíveis que havia…
As cores, figuras, motivos, 
o sol passando sobre os amigos 
Histórias, bebidas, sorrisos 
e afeto em frente ao mar."









- Leoni -

26 janeiro, 2012

Eu descanso nesta verdade




Meu Deus,
Que bom saber que existes;
Que estás aí; que és sempre o mesmo.
Saber que tudo sabes;
Que és amor;
E saber que o meu tempo e os meus dias
Estão nas tuas mãos.
Que bom, meu Deus.

Senhor,
Que bom que me alcançaste
Mediante a cruz.
Que bom que posso ver-te;
Chegar-me como sou e como estou;
falar contigo;
ouvir-te.
Que bom, Senhor.

Meu Pai,
Que bom ter a Palavra;
saber que é viva como tu és vivo;
E ter em mim o Espírito da graça
Que a ilumina para mim
E a torna vida em mim.
Meu Pai, que bom.




Do livro 
Mananciais no Deserto
Levo a vida devagar pra não faltar amor.









Los hermanos 

25 janeiro, 2012

O importante é saber






"O importante não é dizer, é saber. 
Certas coisas não se dizem,
porque dizendo, 
deixam de ser ditas pelo não-dizer, 
que diz muito mais." 



Fernando Sabino

O amor





O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar. 



Quem quer dizer o que sente 
Não sabe o que há de *dizer. 
Fala: parece que mente 
Cala: parece esquecer 



Ah, mas se ela adivinhasse, 
Se pudesse ouvir o olhar, 
E se um olhar lhe bastasse 
Pr'a saber que a estão a amar! 


Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente 
Fica sem alma nem fala, 
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar..





Fernando Pessoa

22 janeiro, 2012

ELISimplesmente



"Sempre vou viver como camicase. É isso que me faz ficar de pé" 

"Me apaixonei pela minha voz" 

"Neste país, só há duas que cantam: Gal e eu"

"Quero saber é do brasileiro, 
não estou preocupada em cromar minha orelha 
e sair para a rua para chamar a atenção"

"Cantar, para mim, é sacerdócio. 
O resto é o resto."

"Me tomam por quem? Um imbecil? Sou algo que se molda do jeitinho que se quer? Isso é o que todos queriam, na realidade. Mas não vão conseguir, porque quando descobrirem que estou verde já estarei amarela. Eu sou do contra. Sou a Elis Regina do Carvalho Costa que poucas pessoas vão morrer conhecendo" 






Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945 – São Paulo, 19 de janeiro de 1982) foi uma intérprete brasileira. Conhecida por sua presença de palco histriônica*, sua voz e sua personalidade, Elis Regina é considerada por muitos críticos, comentadores e outros músicos a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Com os sucessos de Falso Brilhante e Transversal do Tempo, ela inovou os espetáculos musicais no país e era capaz de demonstrar emoções tão contrárias, como a melancolia e a felicidade, numa mesma apresentação ou numa mesma música.


Como muitos outros artistas do Brasil, Regina surgiu dos festivais de música na década de 1960 e mostrava interesse em desenvolver seu talento através de apresentações dramáticas. Seu estilo era altamente influenciado pelos cantores do rádio, especialmente Ângela Maria, e a fez ser a grande revelação do festival da TV Excelsior em 1965, quando cantou "Arrastão" de Vinicius de Moraes e Edu Lobo. Tal feito lhe conferiu o título de primeira estrela da canção popular brasileira na era da TV. Enquanto outras cantoras contemporâneas como Maria Bethânia haviam se especializado e surgido em teatros, ela deu preferência aos rádios e televisões. Seus primeiros discos, iniciando com Viva a Brotolândia (1961), refletem o momento em que transferiu-se do Rio Grande do Sul ao Rio de Janeiro, e que teve exigências de mercado e mídia. Transferindo-se para São Paulo em 1964, onde ficaria até sua morte, logrou sucesso com os espetáculos do Fino da Bossa e encontrou uma cidade efervescente onde conseguiria realizar seus planos artísticos. Em 1967, casou-se com Ronaldo Bôscoli, diretor do Fino da Bossa, e ambos tiveram João Marcelo Bôscoli.

Elis Regina aventurou-se por muitos gêneros; da MPB, passando pela bossa nova, o samba, o rock ao jazz. Interpretando canções como "Madalena", "Como Nossos Pais", "O Bêbado e a Equilibrista", "Querelas do Brasil", que ainda continuam famosas e memoráveis, registrou momentos de felicidade, amor, tristeza, patriotismo e ditadura militar no país. Ao longo de toda sua carreira, cantou canções de músicos até então pouco conhecidos, como Milton Nascimento, Ivan Lins,Renato Teixeira, Aldir Blanc, João Bosco, ajudando a lançá-los e a divulgar suas obras, impulsionando-os no cenário musical brasileiro. Entre outras parcerias, é célebre os duetos que teve com Jair Rodrigues, Tom Jobim, Simonal, Rita Lee, Chico Buarque—que quase foi lançado por ela não fosse Nara Leão ter o gravado antes—e, por fim, seu segundo marido, o pianista César Camargo Mariano, com quem teve os filhos Pedro Mariano e Maria Rita. Mariano também ajudou-a a arranjar muitas músicas antigas e dar novas roupagens a elas, como com "É Com Esse Que Eu Vou".

Sua presença artística mais memorável talvez esteja registrada nos álbuns Em Pleno Verão (1970), Elis & Tom (1974), Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo(1978), Saudade do Brasil (1980) e Elis. Ela foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como se fosse um instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil. Elis Regina morreu precocemente em 1982, com apenas 36 anos, deixando uma vasta obra na música popular brasileira. Embora haja controvérsias e contestações, os exames comprovaram que havia morrido por conta de altas doses de cocaína e bebidas alcoólicas, e o fato chocou profundamente o país na época.





*refere-se à teatralidade em tom pejorativo, muitas vezes usado para definir alguém histérico ou com Transtorno de personalidade histriônica. O histrionista é exagerado em gestos e emoções. A palavra "histrionismo" vem de "histrião" que significa um indivíduo "ridículo, bobo, louco"



Fonte: Wikipédia




19 janeiro, 2012

Como está seu olhar?



(...) Acho que é preciso a gente se encantar, de novo, com essas belezas simples e grandiosas. Há um espetáculo precioso, gratuito, da natureza, mas a platéia está cada vez mais esvaziada.(...)

É preciso ter olhos frescos para sermos capazes de admirar belezas aparentemente antigas. A beleza envelhece quando o olhar da gente perde o viço. Toda beleza é capaz de vestir roupa nova porque outro também é o nosso olhar. Não ignoro o sofrimento. Não banalizo as dores que a gente sente, que não são poucas. Como a maioria de nós, num único dia, visito territórios dos mais diversos sentimentos e às vezes é bem difícil experimentar alguns deles. Mas, eu acho que, à parte os embaraços do caminho, quando a gente se fecha para a beleza do mundo, a vida fica insípida. Quero continuar a ter esse olhar capaz de se encantar com coisas que vê mesmo quando, particularmente, a minha história se torna difícil de ser lida. Por elas, largo as sacolas do supermercado no chão para, por alguns instantes, ser apenas aquela que as contempla. Os problemas continuam, mas o coração ganha um doce que muitas vezes nos ajuda a temperar os amargos.


Ana Jácomo

18 janeiro, 2012

A dependência

A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência, confiar no outro, confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi assim que o outro esteja junto, é talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. Amar é uma confissão. Amar é justamente quando um sussurro funciona melhor que um grito. Amar é não ter vergonha de nossas dúvidas, é falar uma bobagem e ainda se sentir importante. É lavar louça e nunca estar sozinho. É arrumar a cama e nunca estar sozinho. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite.



Fabrício Carpinejar

Ouço os olhos



São os olhos, exatamente os olhos
que eu mais ouço. 
A vida tem me ensinado, ao longo da jornada, 
que as palavras muitas vezes mentem. 
Os olhos, geralmente, 
não desmentem o que diz o coração.




Ana Jácomo

17 janeiro, 2012

Os dias novos deste ano

Aproveitando que o ano ainda está começando, quando li esse texto da Ana não poderia, de forma alguma, deixar de trazê-lo para mim e também para você. As palavras dela foi direito ao meu coração. Ler, pensar e levar pra vida.






No ano novo, bem mais do que nos outros, quero alimentar o meu coração com mais daquilo que eu sei que ele gosta e é capaz de nutri-lo. Quero escolher com todo amor os ingredientes de cada refeição. Cozinhar mais vezes para ele. Usar os temperos que mais aprecia. Dedicar um tempo maior para preparar a mesa. E, depois de servi-lo, desfrutar a delícia de vê-lo saborear o que preparei. Curtir o conforto de me saber responsável pelo seu contentamento. Aquele gostinho bom do “fui eu que fiz pra você”.

No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter mais gentileza com os meus sentimentos. Com todos eles, sem exceção. Quero ter mais habilidade para ouvir o que têm pra me contar, sem tentar abafar a voz daqueles que podem me trazer desconforto. Quero deixar que se expressem, exatamente com a cara que têm. Que me façam surpresas. Que me apontem as mudanças que já aconteceram e me falem sobre aquelas que pedem para acontecer. Quero que me mostrem as regiões ainda feridas em mim que precisam de olhar, de cura ou de perdão. Não quero sentimento acuado, amordaçado, varrido pra debaixo do tapete. Quero ser a melhor confidente de cada um. 

No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter mais cuidado com os sentimentos alheios. Mais compaixão. Mais empatia. Mais tolerância. Suspender o julgamento. Trocar a crítica pelo respeito. Parar de achar que eu faria diferente, que eu diria diferente, quando não é a minha vida que está na berlinda. Quero lembrar mais vezes o quanto nos exige cada superação, cada avanço, cada conquista, cada descoberta das chaves capazes de abrir os cárceres que inventamos para nós. Quero lembrar mais vezes do quanto eu falho, mesmo quando quero acertar. Do quanto eu ainda me atrapalho comigo. Do quanto preciso ser generosa com a minha trajetória a cada novo projeto anunciado pela minha alma. A cada nova tentativa. A cada novo tropeço.

No ano novo, quero me encantar mais vezes. Admirar mais vezes. Compartilhar mais amor. Dançar com a vida com mais leveza, sem medo de pisarmos nos pés uma da outra. Quero fazer o meu coração arrepiar mais freqüentemente de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada. Quero sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa. Brincar com ela mais amiúde. Fazer arte. Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo. Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor. Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos, mesmo àqueles muito antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o seu viço. Quero sintonizar a minha freqüência com a música da delicadeza. Do entusiasmo. Da fé. Da generosidade. Das trocas afetivas. Das alegrias que começam a florir dentro da gente.

No ano novo, bem mais do que nos outros, quero ter atenção com relação ao que sinto, ao que vejo, ao que propago. Mais cuidado para não me intoxicar com os apelos do medo e do pessimismo, tão divulgados nesses nossos tempos. Usufruir mais a sábia isenção que nos permite continuar a ver o melhor para a nossa vida e para a vida de todos os seres, apesar de. Não me importa se eu olhar na contramão: quero ter a coragem de sustentar a minha crença de que o amor, a paz, a luz, hão de prevalecer na Terra, e, enquanto isso não acontecer, quero dirigir também a minha energia ao propósito de que prevaleçam em mim.

No ano novo, bem mais do que nos outros, eu quero me sentir feliz. Uma felicidade que não está condicionada à realização das coisas que, particularmente, anseio para mim. Para a minha história nesse mundo. Para essa personagem que eu visto. Quero, antes de qualquer outra razão, me sentir feliz por encontrar descanso e contentamento no meu coração. Por tocar com o sentimento a preciosidade da vida. Por saber que existem coisas para eu realizar enquanto estou por aqui. Por acreditar que a maior proposta da idéia humana é a felicidade. Não importa quantas nuvens eu possa ter que dissipar no ano que começa: gente, por natureza, é sol, e eu quero viver esse lume.


Da Linda Ana Jácamo

13 janeiro, 2012

Artigo sobre o BBB* – Luís Fernando Veríssimo






Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. [...] Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência. 

[...] Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade. 

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? 

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores) , carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados.  

Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia. 

Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna. 

Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns). 

Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo. 

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!! 

Veja o que está por de tra$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão. 

Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros? (Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores). Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores. 

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade. 


Obs.: BBB* - Big Brother Brasil 



Luís Fernando Veríssimo 

12 janeiro, 2012

Felicidade. Direito ou dever?



Nenhum dos dois!





“Acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo (o bom humor), pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo …” , afirma Schopenhauer (1788-1860)

Ora, ora, esqueceram-se do que diz Nietzsche (1844-1900), “O que não me destrói me fortalece”?

Vivemos num mundo que valoriza a genialidade, a excelência dos genes. Onde a geração do ‘eu mereço’ deseja as soluções fáceis, e com sua esperteza busca os atalhos para atingir seus objetivos. Há um desprezo visível pelos ‘ordinários’, pelos esforçados, pela honestidade, pela disciplina, pelo tempo gasto e pela dedicação.

É uma geração de fracos, fruto de pais angustiados, que não têm o dever de garantir a felicidade de seus filhos, posto que a felicidade não é um direito do ser humano.

Na vida, não há garantia alguma de que seremos felizes. E eu rio com Garrincha (1933-1983), quando este filosofa, perguntando-se: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil?”.

Afinal, o que é a felicidade? É a constante busca do prazer.

A palavra ”felicidade” em grego significa ‘eudamonia’(‘eu ’= bom e ‘daimonia’ = estado de espírito). É o bom estado de espírito que leva à completude. E a palavra euthymia, que significa a tranquilidade, a alegria, o bom humor, complementa esta ideia.

Os filósofos, eternos amigos da humanidade, tentam tornar viável a busca da felicidade. Como reforça Montaigne (1533-1592), “O ofício da Filosofia, que é a ciência de viver bem, é serenar as tempestades da alma”.

Temos ainda as dicas de Demócrito (460 a.C- 370 a.C): “Ocupe-se de pouco para ser feliz”, e de Epicuro (341 a. C-270 a. C): “A quem pouco não basta, nada basta”. Com certeza, nunca imaginariam estes queridos amigos o quanto são sobrecarregadas as nossas agendas, atropelando os nossos espíritos, trazendo-nos angústia e ansiedade diariamente. Eles ficariam assustadíssimos com a quantidade de coisas desnecessárias que fazemos.

Caríssimos, evitemos gestos e pensamentos inúteis. Lembrem-se de que a mente é como um cavalo selvagem. Devemos acalmá-la com pensamentos aquietadores, já aconselhava o imperador romano Marco Aurélio (121 d.C -180 d.C). Ou seja, “é preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens”, ratifica Sêneca.

Devemos seguir e “aceitar os tropeços. Até porque são inevitáveis”, não é mesmo Zenão (333 a.C.-264 a.C)? Esta ideia influenciou os estoicos, que defendiam a serenidade diante do revés ou do triunfo. O que dentro da lógica da resignação, tornou-se um dos pilares do cristianismo.

Ora, ora, “para que tantos planos em vida tão curta?”, lembra Horácio (65 a.C.- 8 a. C). Afinal, não se preocupar com o que vem pela frente é ‘uma das maiores marcas da sabedoria’, complementa Epicuro.

“Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”, segundo Epíteto (55 d.C.-135 d.C.), porque “é mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”, ressalta Descartes (1596-1650).

Não ponha nos outros, nem em nada, a sua felicidade. Isso é fundamental para a vida feliz, pois “é digno de piedade quem depende dos outros”, afirma Montaigne, pois “todas as minhas esperanças estão em mim”, completa Horácio.

“Acima de tudo, o que nos torna mais imediatamente felizes é a jovialidade do ânimo (o bom humor), pois essa boa qualidade recompensa a si mesma de modo instantâneo. Nada pode substituir tão perfeitamente qualquer outro bem quanto essa qualidade, enquanto ela mesma não é substituível por nada”, afirma Schopenhauer (1788-1860).

“Todos os homens desejam alcançar a velhice, mas ao ficarem velhos se lamentam. Os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a idade. A rabugice e o amargor são deploráveis em qualquer idade”, verifica Cícero (106 a.C - 43 a.C).

Atenção para mais um conselho do famoso imperador Marco Aurélio: “Previna a si mesmo ao amanhecer: vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insolente, um astucioso, um invejoso, um avaro”, pois não sabemos o que nos acontecerá adiante, e “teimar e contestar obstinadamente são defeitos peculiares às almas vulgares. Ao passo que voltar atrás, corrigir-se, abandonar uma opinião errada no ardor da discussão são qualidades raras das almas fortes e dos espíritos filosóficos”, corrobora Montaigne.

A felicidade está em viver a vida em seu tempo. “Acaso os adolescentes deveriam lamentar a infância e depois, tendo amadurecido, chorar a adolescência? A vida segue um curso preciso e a natureza dota cada idade de suas qualidades próprias. Por isso, a fraqueza das crianças, o ímpeto dos jovens, a seriedade dos adultos, a maturidade da velhice são coisas naturais, que devemos apreciar cada uma em seu tempo”, não é mesmo, caro Cícero?

Afinal, lembro-me agora de um provérbio judeu que diz, “não há nada mais alegre e especial do que as coisas acontecendo a seu tempo!”.

Ser feliz é crescer e ser melhor do que antes. Superar-se. Ainda que crescer seja compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor, pelo contrário, a engrandece porque depende de nossa participação para ter sentido.



Samanta Obadia

Servido?


10 janeiro, 2012

O amor...


É difícil para os indecisos.
É assustador para os medrosos.
Avassalador para os apaixonados! 
Mas, os vencedores no amor são os fortes. 









Cecília Meireles

09 janeiro, 2012

Caminhos do coração

Ilustração Lesja.

(...)E aprendi que se depende sempre
De tanta muita diferente gente
Toda pessoa sempre é as marcas
Das lições diárias de outras tantas pessoas
E é tão bonito quando a gente entende
Que a gente é tanta gente
Onde quer que a gente vá
E é tão bonito quando a gente sente
Que nunca está sozinho
Por mais que a gente pense está
É tão bonito quando a gente pisa firme
Nessas linhas que estão
Nas palmas de nossas mãos
É tão bonito quando a gente vai à vida
Nos caminhos onde bate 
Bem mais forte o coração




Gonzaguinha - Caminhos Do Coração

E a gente levanta e vai....




... Porque parece que chega uma hora em que não se trata mais de ainda existir alguma esperança.
Mas sim de não se deixar desistir.



Julio Cortázar

2012


É isso aí...


Antonio Veronese

03 janeiro, 2012

O amor que transcende





Quando soube que tinha poucos meses de vida por causa de um câncer, o professor de gramática inglês Paul Flanagan só pensou em seus filhos, Thomas e Lucy. Em vez de sentir piedade de si mesmo ou entregar-se à tristeza, ele usou seus últimos dias para tentar ser um bom pai – mesmo à distância. Paul escreveu cartas, deixou mensagens gravadas em DVD e até comprou presentes para ser entregues às crianças em seus aniversários futuros. Separou também seus livros preferidos e, dentro deles, deixou bilhetes dizendo por que havia gostado de lê-los.

Em novembro de 2009, aos 45 anos, Paul morreu por causa do melanoma, deixando a mulher, Mandy, Thomas, então com 5 anos, e Lucy, de 1 ano e meio. Quase dois anos depois, ele continua presente com suas mensagens e fotos espalhadas por toda a casa. E, no mês passado, a família ganhou mais uma lembrança de Paul. Por acaso, Mandy encontrou um documento em seu antigo computador intitulado “Sobre encontrar a realização”. “Abri e, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto, descobri que eram seus pontos para viver uma vida boa e feliz”, diz Mandy ao jornal Daily Mail.

“Quando alguém recebe a notícia de que tem poucos meses de vida, decide que sua vida não vai ser completa se não pular de bungee-jump da Ponte Harbour, em Sidney, ou não tiver visitado o Grand Canyon. Esse não era Paul. Tudo que importava para ele estava bem aqui. Ele viveu e morreu de acordo com suas próprias regras, e sei que encontrou sua própria realização.” Mandy diz que a carta é uma reprodução fiel dos valores e do bom humor de Paul.

O professor resumiu as reflexões que nortearam seu modo de viver em 28 itens. Traduzo aqui as palavras de Paul para seus filhos – e que agora servem de inspiração não só para eles, mas para todos que as leem.

“Nessas últimas semanas, depois de saber de meu diagnóstico terminal, procurei encontrar em minha alma e em meu coração maneiras de estar em contato com vocês enquanto vocês crescem.

Estive pensando sobre o que realmente importa na vida, e os valores e as aspirações que fazem das pessoas felizes e bem-sucedidas. Na minha opinião, e vocês provavelmente têm suas próprias ideias agora, a fórmula é bem simples.

As três virtudes mais importantes são: lealdade, integridade e coragem moral. Se aspirarem a elas, seus amigos os respeitarão, seus empregadores o manterão no emprego, e seu pai será muito orgulhoso de vocês.

Estou dando conselhos a vocês. Esses são os princípios sobre o quais tentei construir a minha vida e são exatamente os que eu encorajaria vocês a abraçar, se eu pudesse.

Amo muito vocês. Não se esqueçam disso.

Seja cortês, pontual, sempre diga “por favor” e “obrigado”, e tenha certeza de usar o garfo e a faca de maneira correta. Os outros decidem como tratá-los de acordo com as suas maneiras.

Seja generoso, atencioso e tenha compaixão quando os outros enfrentarem dificuldades, mesmo que você tenha seus próprios problemas. Os outros vão admirar sua abnegação e vão ajudá-lo.

Mostre coragem moral. Faça o que é certo, mesmo que isso o torne impopular. Sempre achei importante ser capaz de me olhar no espelho toda manhã, ao fazer a barba, e não sentir nenhuma culpa ou remorso. Parto deste mundo com a consciência limpa.

Mostre humildade. Tenha a sua opinião, mas pare para refletir no que o outro lado está dizendo, e volte atrás quando souber estar errado. Nunca se preocupe em perder a personalidade. Isso só acontece quando se é cabeça-dura.

Aprenda com seus erros. Você vai cometer muitos, então os use como uma ferramenta de aprendizado. Se você continuar cometendo o mesmo erro ou se meter em problema, está fazendo algo errado.

Evite rebaixar alguém para outra pessoa; isso só vai fazer você ser visto como mau. Se você tiver um problema com alguém, diga a ela pessoalmente. Suspenda fogo! Se alguém importuná-lo, não reaja imediatamente. Uma vez que você disse alguma coisa, não pode mais retirá-la, e a maioria das pessoas merece uma segunda chance.

Divirta-se. Se isso envolve assumir riscos, assuma-os. Se for pego, coloque suas mãos para cima.

Doe para a caridade e ajude os menos afortunados que você: é fácil e muito recompensador.

Sempre olhe para o lado bom! O copo está meio cheio, nunca meio vazio. Toda adversidade tem um lado bom, se você procurar.

Faça seu instinto pensar sempre sempre em dizer ‘sim’. Procure razões para fazer algo, não as razões para dizer ‘não’. Seus amigos vão gostar de você por isso.

Seja gentil: você conseguirá mais do que você quer se der ao outro o que ele deseja. Comprometer-se pode ser bom.

Sempre aceite convites para festas. Você pode não querer ir, mas eles querem que você vá. Mostre a eles cortesia e respeito.

Nunca abandone um amigo. Eu enterraria cadáveres por meus amigos, se eles me pedissem… por isso eu os escolhi tão cuidadosamente.

Sempre dê gorjeta por um bom serviço. Isso mostra respeito. Mas nunca recompense um mau serviço. Um serviço ruim é um insulto.

Sempre trate aqueles que conhecer como seu igual, estejam eles acima ou abaixo de seu estágio na vida. Para aqueles acima de você, mostre deferência, mas não seja um puxa-saco.

Sempre respeite a idade, porque idade é igual a sabedoria.

Esteja preparado para colocar os interesses de seu irmão à frente dos seus.

Orgulhe-se de quem você é e de onde você veio, mas abra a sua mente para outras culturas e línguas. Quando começar a viajar (como espero que faça), você aprenderá que seu lugar no mundo é, ao mesmo tempo, vital e insignificante. Não cresça mais que os seus calções.

Seja ambicioso, mas não apenas ambicioso. Prepare-se para amparar suas ambições em treinamento e trabalho duro.

Viva o dia ao máximo: faça algo que o faça sorrir ou gargalhar, e evite a procrastinação.

Dê o seu melhor na escola. Alguns professores se esquecem de que os alunos precisam de incentivos. Então, se o seu professor não o incentivar, incentive a si mesmo.

Sempre compre aquilo que você pode pagar. Nunca poupe em hotéis, roupas, sapatos, maquiagem ou joias. Mas sempre procurem um bom negócio. Você recebe por aquilo que paga.

Nunca desista! Meus dois pequenos soldados não têm pai, mas são corajosos, têm um coração grande, estão em forma e são fortes. Vocês também são amados por uma família e amigos generosos. Vocês fazem o seu próprio destino, meus filhos, então lutem por ele.

Nunca sinta pena de si mesmo, ou pelo menos não sinta por muito tempo. Chorar não melhora as coisas.

Cuide de seu corpo que ele vai cuidar de você.

Aprenda um idioma, ou pelo menos tente. Nunca comece uma conversa com um estrangeiro sem primeiro cumprimentá-la em sua língua materna; mas pergunte se ela fala inglês!

E, por fim, tenha carinho por sua mãe, e cuide muito bem dela.

Amo vocês com todo meu coração,

Papai”






Letícia Sorg é repórter especial de ÉPOCA em São Paulo.





Vai....pega!!!


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