
"Quando você ama alguém, seus olhos sobem e descem e pequenas estrelas saem de você."
Karen, 7 anos
— E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
— Ah. Porque eu sou tímida.
Extraído da Revista Vida Simples – Por Marcia Bindo:
“Aquela poderia ser mais uma manhã como outra qualquer. Eis que o sujeito desce na estação do metrô. Vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal. Mesmo assim, durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes. Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares. Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.
A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino. A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte. A conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto. Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefato de luxo sem etiqueta de grife.
Esse é um exemplo daquelas tantas situações que acontecem em nossas vidas que são únicas, singulares, e a que não damos a menor bola porque não vêm com a etiqueta de seu preço. A boa notícia é que pela primeira vez na história temos a chance eu, você e quem mais quiser de definir o que tem valor real para nós, independenteente de marcas, preços e grifes. Não é mais um luxo o que o mercado diz que você deve ter, sentir, vestir ou ser. O luxo se relativizou, cada indivíduo o percebe a seu modo. Quer ver?
Sabe quando você faz algo que lhe dá um prazer danado, mas que acontece aqui e ali, bem raramente, e que por isso mesmo traz uma sensação de felicidade que transborda só de pensar? Pois a experiência única, que evoca esse estado de espírito, é o tal luxo para chamar de seu. Ele ganhou um conceito mais flexível, que se desvincula do valor das cifras dos produtos e se aproxima das experiências subjetivas, um luxo emocional, afirma o psicanalista Jorge Forbes. Numa pesquisa rápida, descobri que, se para meu vizinho um luxo é chegar mais cedo do trabalho para cair na farra com os filhos, para a chefia é conseguir almoçar sossegado em casa e para a colega aqui ao lado é não ter hora para acordar simplesmente um luxo!”
Primeiro quis escrever nossa história para livrar-me dela. Mas para esse objetivo as lembranças não vieram. Então notei como a nossa história estava escapando de mim e quis recolhê-la de novo por meio do trabalho de escrever, mas isso também não destravou as memórias. Há alguns anos deixo nossa história em paz. Fiz as pases com ela. E ela retornou, detalhe após detalhe, de uma maneira redonda, fechada e direcionada que já não me deixa triste. Que história triste, pensei durante muito tempo. Não que eu pense agora que ela é feliz. Mas penso que é verdadeira e, diante disso, perguntar se é triste ou feliz é algo que não faz sentido”.
Bernhard Schlink ,O Leitor
Ler rapidamente aquilo que o autor levou anos para pensar é um desrespeito. É certo que os pensamentos, por vezes, surgem rapidamente, como num relâmpago. Mas a gravidez é sempre longa. Há frases que resumem uma vida. Por isso é preciso ler vagarosamente, prestando atenção nas idéias que se escondem nos silêncios que há entre as palavras. Eu gostaria que me lessem assim. Quer eu escreva como um poeta, no esforço para mostrar a beleza, ou como palhaço, no esforço para mostrar o ridículo, é sempre a minha carne que se encontra nas minhas palavras.
Rubem Alves (Ostra Feliz Não Faz Pérola)
Mulherões, dentro deste conceito, não existem muitas:
Vera Fischer, Letícia Spiller, Malu Mader, Adriane Galisteu,
Lumas e Brunas.
Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão
e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.
estudar até às 24h para ter uma vida mais digna.
Mulherão é quem volta do supermercado segurando várias sacolas
depois de ter pesquisado preços e feito malabarismo com
o orçamento.
Mulherão é aquela que se depila,
que passa cremes, que se maquia,
que faz dieta, que malha,
que usa salto alto, meia-calça,
ajeita o cabelo e se perfuma mesmo sem nenhum
convite para ser capa de revista.
Mulherão é quem leva os filhos na
escola, busca os filhos na escola,
leva os filhos para natação , balé,
leva os filhos para cama, conta histórias,
dá um beijo e apaga a luz.
Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme
enquanto ele não chega,
e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite.
Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo,
é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva,
é quem opera pacientes, é quem lava roupa para fora,
é quem bota a mesa, cozinha o feijão
e à tarde trabalha atrás de um balcão.
Mulherão é quem cria os filhos sozinha,
quem dá expediente 8 horas
e enfrenta menopausa, TPM e menstruação.
Mulherão é quem arruma os armários,
coloca as flores nos vasos,
fecha a cortina para o sol não desbotar o sofá,
mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios.
Mulherão é quem sabe onde cada coisa está,
e que cada filho sente e qual o melhor remédio para azia.
Lumas, Brunas, Carlas, Luanas, Sheilas:
mulheres nota 10 no quesito lindas de morrer,
mas mulherão é quem mata um leão por dia para sobreviver .
Martha Medeiros