15 outubro, 2011




"Pois logo a mim, tão cheia de garras e sonhos, coubera arrancar de seu coração a flecha farpada.

De chofre explicava-se para que eu nascera com mão dura, e para que eu nascera sem nojo da dor.

Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte e para arrancar os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem.

Para que te serve essa cruel boca de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada.

Para que te servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso tanto, tanto, tanto ... uivaram os lobos e olharam intimidados as próprias garras antes de se aconchegarem um no outro para amar e dormir."

(Trecho do conto 'Os desastres de Sofia', in "Felicidade Clandestina - Clarice Lispector)

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