10 abril, 2012

Estilhaça-me






Somente agora sei que os cientistas estão errados.

O mundo é achatado.

Sei porque fui atirada da margem do planeta e há dezessete anos ando tentando me segurar. Há dezessete anos tenho tentado escalar de volta, mas é quase impossível superar a gravidade quando ninguém está disposto a lhe dar a mão.

Quando ninguém quer o risco de tocar em você.


*


Às vezes penso que a solidão dentro de mim explodirá pela pele e, às vezes, não tenho certeza se chorar ou gritar ou rir de histeria resolverá alguma coisa. Às vezes estou tão desesperada por tocar, por ser tocada, por sentir, que tenho quase certeza de que vou cair de um penhasco em um universo alternativo no qual ninguém, nunca, será capaz de me encontrar.

Não parece impossível.

Tenho gritado por anos e ninguém jamais me escutou.



*


Não há tantas árvores como antes, é o que dizem os cientistas. Eles dizem que nosso mundo costumava ser verde. Nossas nuvens costumavam ser brancas. Nosso Sol era sempre o tipo certo de luz. Mas tenho frágeis memórias desse mundo. Não me lembro muito de como era antes. A única existência que conheço agora é a que me foi dada. Um eco do que costumava ser.


*


Ele senta a meu lado e apoia-se na parede. Seus ombros estão tão perto muito perto nunca perto o bastante. O calor de seu corpo faz mais por mim do que o cobertor jamais fará. Algo em minhas articulações dói (...), uma necessidade desesperada que nunca fui capaz de satisfazer. Meus olhos estão implorando por algo a que não me posso permitir.

Toque-me.




Tahereh Mafi in Estilhaça-me

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