04 maio, 2012

Afeto Minguante



Ontem, depois que nos falamos, senti que não poderia dormir sem dizer que entendo sua dor. Falar de amor e insônia e ainda dar conselhos: meu regime lunar. E tudo me parece tão conversa de comadre. Mas preciso dizer que conheço a dor que machuca sem descanso. Parece até martelo em prego torto. Ficamos tão concentrados naquilo que nos fere que o mundo parece diluir por falta de sentido. E a gente fica naquela de olhar foto, reler rabisco escrito em guardanapo e lembrar das horas de um tempo que insiste. Perfeito seria sofrer um surto de amnésia. Porque esta dor chega a ser prepotente. Uma dor de nariz em pé. Uma mágoa que é nódoa e demora a largar de nós. Parece até que a dor nos faz ficar viciados em sofrer mais. É como se não houvesse saída. Daí partimos para o desespero: telefonemas no meio da noite, andar pelas ruas sentindo peso nas costas, não conseguir sorrir e, televisão, nem pensar. Tudo parece nos assombrar. Dor dilacera o ser. E amor completa. Há quem discorde. O amor que se perde é o amor exato para nossos dias? É uma pergunta que precisa de resposta. O que amamos? O outro ou a sensação de estar com o outro? O que nos faz felizes? A pessoa ou a sensação de possuir a pessoa? O que nos completa? O que realmente queremos? Já faz tempo que aprendi algo e, embora não consiga colocar em prática, não paro de repetir aqui, dentro de mim: A dor é necessária. Porém, isto não faz dela um acessório permanente em nossas vidas. É aprendizagem para outros voos. Ou quedas. E, se este amor partido não é recíproco, que não seja de forma alguma. Ninguém precisa viver de retalhos. Você não precisa viver de lua minguante quando há outras luas pelo mundo. Então está doendo? Mas é claro que dói. Somos humanos e não conseguimos ainda entender nossos complicados mecanismos de funcionamento. E, por sermos todo sentimento, não sabemos coordenar isto. Não sabemos racionalizar, fazer soma exata e calcular resultados. Mas eu preciso que me escute com atenção: Você vai chorar por dias. Noites inteiras. Talvez emagreça e queira, por desespero, de volta o amor que é minguante. Mas há um segredo nítido: Tudo irá passar. Quando você menos esperar, pronto, passou. E, muito provavelmente, virão outros amores, outras histórias e outro riso. É fato. O futuro vai trazer tudo. Mas não se comprometa em esperar na porta de casa. O futuro não é imediato. É tartaruga. Mas ele virá. E pode ser que venha no próximo mês, amanhã, ou depois que você chorar tanto até explodir rindo de sua própria cara. Porque a dor também perde o sentido. O mundo continua e você também. E o dia ensina em clara sinfonia: Há lutos necessários e despedidas que não podemos adiar. Perder não é sinônimo de desperdício. É caminho aberto para outro estágio, outro cenário, outra véspera de nova fome que alimento algum irá saciar. Afinal de contas, somos incuráveis. Viciados na arte de amar minguantes mesmo que luas inteiras de amor por nós se declarem. Mas há cura para todo mal. Amor acontece. De repente. Demorado. E quase sempre.




Letícia Palmeira 

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