Quase amores não existem. E não
existem mesmo. Mas existem. Tudo bem, você pode desconfiar de um quase corno.
Mas, provavelmente, nunca apertou a mão de um semi-gay. Ligeiramente grávidas
são um desafio para a ciência. De meio amigos também não há registros, porém
para encontrar mui amigos, chute uma lata e surgirão como ratos. Mas quase amor
existe.
Quase amor é aquele ensejo de
romance que surgiu com sabor de sorvete de baunilha. Você foi dar uma colherada
com gosto e SPLASH! Ao levar o prazer até a boca, o doce escorreu e espatifou,
melecando sua calça jeans. Todo mundo passa por isso, quer queira, quer não.
Histórias de quase amor não lotam pré-estreias em Los Angeles, mas na vida sem
bilheterias goleiam impiedosamente os contos de amor concreto.
Um amor que não passa do primeiro
beijo porque o cara é noivo, é um quase amor. Um romance que não chegou no
sexo, pois uma das partes embarcou com urgência para Londres sem aviso prévio,
é quase amor também. Visualiza a cena: você gosta de uma garota comprometida e
pede a ela que não suba no ônibus. Ou será o fim. Ela titubeia, faz
bem-me-quer, mas segura o corrimão, ergue o pé direito e te olha com beiço de
despedida. Pronto, outro quase amor saindo quentinho. Uns duram cinco anos,
outros cinco meses. Raros, cinco dias. Contudo – de fato e amargamente – quase
amores se dão como formigas em pote de mel.
Por isso quase amores existem e
não existem. Talvez não tivera beijo, ou não houve sexo, quiçá um abraço de
urso. Quase amores são cheios da falta de café na cama, juras de amor eterno,
cena de ciúme, mordida no queixo, lutinha no carpete, banho de espuma, briga na
casa da sogra, despedida em rodoviária, confusão de chinelos, chimarrão no
meio-fio, troca de alianças, beijo na testa, orgasmo com choro e velhice compartilhada.
E se engana quem pensa que os
quase amores são aqueles impossíveis ou proibidos, do tipo Janet Dailey. Amores
por um triz têm motivos circunstanciais. Amor que é proibido, mas os dois se
correspondem, já é amor completo, mesmo que imperfeito. Quase amor é quando um
dos lados se doa pela metade, quando tanto. Aí é pretérito. Bem mais que
imperfeito.
Quase amor é um lugar estranho e
ao mesmo tempo familiar. Aconchegante e inóspito. Enérgico e gélido. É como
quando você tem um déjà vu ao entrar numa rua ladrilhada dessas de cidade
histórica. Um lugar aonde você jamais esteve, porém consulta sua memória rígida
buscando reconhecer árvores, calçadas e telhados. Uma saudade abstrata
pressiona o peito. E quase dói.
Gabito Nunes
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