10 abril, 2008


Desconheço algo mais perfeito que o beijo. Também não sei de nada mais complexo. Qual medida determina a distância entre a troca de olhares e o primeiro beijo? A retenção do instinto pura e simplesmente, sendo racionalidade cautelar? Preconceitos instalados no eu mais clerical e ortodoxo? No entanto, o tal ato sem precedentes e não arquitetado perderia, quase que de todo, vigor e fundamento.
O beijo é uma mentira que ousa se fazer verdade. Uma repetição simples como o ato de comer e arriscada como a caça do alimento. O beijo é também fermento que se deve saber a medida exata para o confeito. Pois se feito sem feitio pode estragar a massa.
Apesar disso, beijo é medida, mas é sem receita. Porque a mão, melhor, a boca é ato inconfessável como todo pecado deve ser. Algo que se ousa e se usa. Mesmo os mais tímidos já beijaram e, a partir destes, nem pense pensar o que pensaram. Dentro da boca há o céu. Disto sabe-se. Mas a delicia do seu inferno é que nos leva a paraíso prometido. Cartão de visita? Não. Já é cama feita para o camafeu. Não se deixou de ir se não se foi até o fim. O que pode, no máximo, ocorrer é o desgosto. O muito gosto também pode nos fazer recuar, até fugir de medo. Medo de não mais pertencer a si mesmo. Medo do retorno dolorido ou improvável ou da própria viagem rumo ao desconhecido.

Aluisio

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem gostou da Ideia