16 agosto, 2011

O amor comeu













O amor comeu meu nome,
minha identidade, 
meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade, 
minha genealogia, 
meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita
O amor veio e comeu todos os papéis
onde eu escrevera o meu nome





O amor comeu minhas roupas, 
meus lenços e minhas camisas
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos, 
o número de meu sapato, 
o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura,
 meu peso, 
a cor de meus olhos e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra,
meu dia e minha noite,
meu inverno e meu verão
Comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça,
meu medo da morte.







Do João Cabral de Melo Neto
citado pelo Cordel do fogo encantado


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem gostou da Ideia