22 março, 2012

Em matéria de amor





O amor poderia ter sido uma matéria da quinta série. Assim, eu juro, sentaria a bunda na cadeira e estudaria dias a fio, até os dedos ficarem calejados, até gastar todas as canetas do mundo. Me tornaria a primeira da sala, aquela nerd de camiseta larga e calça de moletom, as melhores notas, os melhores trabalhos. Ainda me prestaria a apresentar no final do ano pesquisas sobre o amor, ainda que não me valesse nota alguma. E certamente teria escolhido o amor como faculdade, especialização, mestrado e doutorado. E daria palestras explicando o porquê de cada coisa do amor que nos belisca, machuca, incomoda, tira a fome e que transborda.
Se o amor tivesse sido mesmo uma matéria, assim, com os olhos vidrados na lousa, eu usaria óculos desde os 7 ou 8 anos de idade, de tanto que teria lido sobre ele, do tanto que teria me entregado, da miopia tremenda que teria me atingido. Talvez tivesse renite por respirar muito o pó do giz do professor, talvez tivesse anemia por ter ficado mais tempo estudando do que me alimentando. Talvez não tivesse amigos por me dedicar tanto ao estudo (talvez tivesse um coração inteiro hoje em dia).
Se o amor tivesse sido explicado na escola, talvez eu não tivesse partido tantas vezes meu coração. Se tivesse aprendido as métricas do amor, não permitiria o choro virar soluço, o soluço virar falta de ar, a falta de ar virar falta de esperança e assim vai. Teria medido as menções, teria medido tempo e espaço e as probabilidades daquilo dar certo.
O amor poderia vir em almanaques, poderia existir um dicionário com suas milhões de páginas explicativas, com milhões de definições, com milhões de sinônimos e saídas estratégicas.
Se o amor tivesse sido uma matéria, talvez não existissem abismos, sufocos diários e fotos rasgadas. Se tivesse sido explicado, se o amor tivesse sido desenhado e submetido a análises… Não estaríamos constantemente procurando explicações para seus derivados como a saudade, a decepção, o abandono e o medo. Mas também, quem sabe, se o amor tivesse sido uma matéria escolar, talvez hoje em dia ele não passasse mesmo de um estudo anotado em cadernos.




Camila Heloíse

3 comentários:

  1. Que texto lindo! Eu repetiria de ano, só para aprender mais e mais sobre o amor rs.

    Grande abraço!

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  2. Adorei este texto! Acho que eu também teria repetido de ano, mas por não conseguir entender a matéria...

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