22 março, 2012

O pensamento é a minha droga



‎"Porque ‘ler e estudar’ é, necessariamente, fazer uma abertura para o mundo. Não fazer uma abertura para o mundo para observá-lo, ou pra reformá-lo, ou pra transformá-lo. Mas pra ‘destruí-lo’- e produzir ‘outro’ mundo. Ou seja, eu ‘leio’ e ‘estudo’ para saber que o pensamento – sempre que ele se exercer – pode criar novas linhas de vida, logo, outros mundos. Pensar é mergulhar no mundo. Ler é mergulhar no mundo. É exatamente o oposto desses que fazem… é… – são, o quê? – São, mais ou menos, os imbecis letrados – aqueles que se fecham num ‘grande saber’, emitindo ‘máximas’, que não têm serviço nenhum a favor da vida. O pensamento existe, o estudo existe, a leitura existe – pra prestar um serviço… à vida. Então, sempre voltados pro mundo…
(...)
O homem não exerce o seu pensamento por vontade livre; nem o próprio pensamento tende a pensar por natureza. Eu considero que o nosso pensamento só começa a se exercer, quando alguma coisa de fora o força a fazê-lo. Ou seja – nós só pensamos forçados. Isso aqui foi um aprendizado que eu fiz na obra do Deleuze. O homem – naturalmente - é banal, tolo e envolvido em asneiras. Então, pra evitar essas asneiras, eu passo a minha vida como se estivesse drogado. Ou melhor: eu procuro sempre me drogar. Mas essa ‘droga’ que eu uso é… o pensamento. É provavelmente a droga mais poderosa, que não permite mais retorno – não há cura pra ela!…"


[Entrevista concedida por Cláudio Ulpiano em 8 de julho de 1995. O entrevistador era Rodolfo Treitel Paschoal, um aluno]

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