28 março, 2012

Luvas de Pelica




Tem coisas na vida que exigem um pouco mais de delicadeza e tato: dar notícia ruim, segurar filho dos outros no colo, tirar cutícula etc. Nesses casos é preciso um bocado de amenidade e fineza. As sutilezas têm o poder de transformar o assédio em flerte, a ofensa em ironia e deixar a vida bem mais saborosa.

Veja você que durante uma aula de filosofia que tive no 3º colegial, ergui o braço e fiz uma pergunta sobre Santo Agostinho ou São Tomás de Aquino. O professor, com a delicadeza de um tiranossauro tomando chá com Keith Richards, apossou-se do microfone e recomendou em alto e bom som a meus outros 59 colegas que não fizessem perguntas estúpidas como a minha. Se faltou a meu docente o tato para me explicar que a pergunta era inadequada – e não era, eu juro! – faltou-me também a coragem de cobrar minha merecida retratação.

Ser sutil é fundamental. No entanto, não confunda ser delicado com ser idiota. A pessoa sutil encanta a todos no escritório com seu charme e sua educação. É competente, cai nas graças da chefia e logo é promovida. A pessoa sonsa se deixa atolar de obrigações que não lhe cabem só para agradar aos outros e nunca sai do lugar. O sutil é maroto. Conhece as regras, respeita-as e caminha com graça por seus meandros. O sonso conhece apenas o seu umbigo e dá infinitas cabeçadas contra a parede. O sutil é astuto, o sonso é – pura e simplesmente – e na inércia de sua “sonsura” se deixa levar e acaba metendo as mãos onde não queria nem devia. 




Augusto Paz
* Colunista convidado do Blog Hoje vou assim - Cris Guerra

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